Promover a inclusão de jovens vulneráveis socialmente, aliando desenvolvimento da cidadania ao preparo para o mercado de trabalho. Essa é a proposta de um projeto social que funciona, desde junho de 2010, em Américo Brasiliense, cidade da região central de São Paulo. Cofinanciado com recursos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social – Seds e coordenado pelo Departamento de Promoção Social do município, o projeto beneficia atualmente 27 adolescentes e jovens, que recebem acompanhamento social e frequentam aulas do curso de serralheria na Escola Tecno-Cursos, conveniada com a Prefeitura.
Entre os alunos, há beneficiários dos programas estaduais de transferência de renda Ação Jovem e Renda Cidadã e adolescentes cumprindo medidas socioeducativas em meio aberto por terem cometido atos infracionais. “Neste último caso, toma-se o cuidado de preservar o histórico dos jovens perante os colegas e os professores”, explicou a diretora do Departamento de Promoção Social de Américo Brasiliense, Elizabete Bombo. “Julgados eles já foram pelo juiz. O nosso papel agora é trabalhar sua autoestima e oferecer novos caminhos”, completou a orientadora de medidas socioeducativas, Deise Dotele.
Ao longo de dois meses e meio, os alunos têm aulas de interpretação de projetos, soldagem e serralheria. Segundo o coordenador da escola, João Arthur, eles saem preparados para fazerem portões, bancadas, lixeiras e outras peças de aço. Além disso, o curso prepara os jovens para a postura correta em entrevista de emprego e ambiente de trabalho. “Teve pai que veio ver pessoalmente se o filho estava vindo estudar, já que o menino era conhecido pelos problemas que causava”, contou João.
A região central do estado é repleta de canaviais e plantações de citros, e durante o período de safra, famílias vindas de todo o Brasil chegam para trabalhar nas lavouras, incluindo muitos desses jovens. Mas existe também uma série de empresas que trabalham com o aço, como caldeirarias e fábricas de maquinários. “Os ganhos que esses alunos conseguem nessa área são muito maiores em relação ao trabalho nas lavouras”, lembrou João Arthur.
Um dos sucessos do curso de serralheria é a parceria com empresas que contratam os alunos formados. Flávio Eduardo Gentil é um dos empresários que fazem questão de empregar jovens do projeto social, além de investir na formação de outras turmas. “As dificuldades da colheita da cana e da laranja são tão grandes que, ao terem a oportunidade de aprenderem uma atividade mais qualificada, eles aproveitam ao máximo. Já contratei 22 alunos e até o final do ano, contratarei mais 25”, comentou.
Segundo o prefeito de Américo Brasiliense, Valdemiro Brito Gouvêa, iniciativas como essas trazem geração de renda não só para os beneficiários, como também para o município. “Quando eles saem empregados, a cidade ganha com isso. E se não fosse por atividades como essa, os jovens estariam ociosos”.
Um dos professores do curso, Valdeci Tedi Vieira, confessa que no início ficou receoso quanto ao perfil dos seus futuros alunos, mas admite que se surpreendeu rapidamente. “O retorno da turma é maior se comparado às aulas de classes particulares. Gosto de trabalhar com eles porque nesta idade ainda é possível mostrar um outro horizonte. A autoestima desses meninos já está muito prejudicada e precisamos tratá-los com toda atenção e respeito”, explicou. Valdeci comentou ainda que esta turma é mais introspectiva. “Parece que eles querem passar uma régua no passado e seguir por uma nova trajetória”.
A possibilidade de ganhos financeiros maiores é o que motiva a maior parte dos alunos. “Não tinha nenhuma noção de serralheria, mas aceitei fazer o curso por causa do mercado de trabalho”, contou Marcos Henrique, 16. Ele é beneficiário do Ação Jovem e faz das aulas uma atividade complementar ao currículo escolar. Com os R$ 80,00 mensais que recebe do Governo de São Paulo, ajuda nas despesas de casa e investe em material didático. Evair Carapelli de Souza, 16, já trabalhou como ajudante de pedreiro e busca na serralheria novas perspectivas. “Não é a minha área preferida, mas gosto de aprender coisas novas e tem bastante oportunidade de trabalho na nossa região”. Outro aluno, Jeremias da Silva Pinto, 16, lembra ainda que o salário é maior. “Já atuei com vendas, mas agora quero trabalhar com caldeiraria”.
Considerando que parte dos alunos cometeu atos infracionais antes de serem encaminhados ao curso, é essencial que seja feito um acompanhamento também com suas famílias. “Se não houver essa ação integrada, dificilmente teremos sucesso. A estrutura familiar precisa ser trabalhada, até como uma ação preventiva diante de possíveis novas ocorrências”, explica Deise Dotele. “Com a municipalização das medias e a transição para a área da assistência social, ficou mais ágil acionar a rede de proteção e a inclusão em programas sociais. Envolvemos a escola, os serviços de saúde e ações socioassistenciais”, completou Deise.
Parte deste trabalho de acompanhamento é feito pelo psicólogo Deividi Palma Mesquita, que esclarece: “Se a família estiver com problemas, o jovem se contamina e o trabalho de recuperação fica muito prejudicado”. A falta de estrutura social também é fator determinante para o desenvolvimento dos alunos. “Trabalhamos com as famílias em cima da motivação. Explicamos a importância dos filhos continuarem seus estudos para a mudança da trajetória de suas vidas. E o curso de serralheria caiu como um prato cheio, porque os pais vêem nesta oportunidade a chance dos filhos alcançarem melhores condições”, disse o psicólogo.
Medidas em Meio Aberto
Em 2009, o Governo de São Paulo foi pioneiro na transição para a Assistência Social das medidas socioeducativas em meio aberto (liberdade assistida e prestação de serviços à comunidade), obrigatória para todos os Estados da Federação. O processo contou com a participação de técnicos da Fundação Casa, Frente Paulista de Municípios, além de técnicos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social. Atualmente, são atendidos 14.226 adolescentes em 245 municípios, com investimento estadual de R$ 20 milhões.